Um dentre eles tomou a palavra e falou assim em nome de todos. Que nos pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos a morrer antes de violar as leis de nossos pais.
Em seguida, mandou conduzi-lo ao fogo inerte e mal respirando, para assá-lo na sertã. Enquanto o vapor da panela se espalhava em profusão, os outros com sua mãe, exortavam-se mutuamente a morrer com coragem.
Morto desse modo o primeiro, conduziram o segundo ao suplÃcio. Arrancaram-lhe a pele da cabeça com os cabelos e perguntaram-lhe depois: Comerás carne de porco, ou preferes que teu corpo seja torturado membro por membro?
Ele respondeu: Não, no idioma de seu paÃs, e padeceu então os mesmos tormentos do primeiro.
Prestes a dar o último suspiro, disse ele: Maldito, tu nos arrebatas a vida presente, mas o Rei do universo nos ressuscitará para a vida eterna, se morrermos por fidelidade às suas leis.
Após este, torturaram o terceiro. Reclamada a lÃngua, ele a apresentou logo, e estendeu as mãos corajosamente.
O próprio rei e os que o rodeavam ficaram admirados com o heroÃsmo desse jovem, que reputava por nada os sofrimentos.
Morto este, aplicaram os mesmos suplÃcios ao quarto,
e este disse, quando estava a ponto de expirar: É uma sorte desejável perecer pela mão humana com a esperança de que Deus nos ressuscite; mas, para ti, certamente não haverá ressurreição para a vida.
Após este, fizeram achegar-se o sexto, que disse antes de morrer: Não te iludas; nós mesmos merecemos estes sofrimentos, porque pecamos contra nosso Deus, e em conseqüência recebemos estes flagelos surpreendentes.
Mas não creias tu que ficarás impune, após haveres ousado combater contra Deus.
Particularmente admirável e digna de elogios foi a mãe que viu perecer seus sete filhos no espaço de um só dia e o suportou com heroÃsmo, porque sua esperança repousava no Senhor.
Ela exortava a cada um no seu idioma materno e, cheia de nobres sentimentos, com uma coragem varonil, ela realçava seu temperamento de mulher.
Ignoro, dizia-lhes ela, como crescestes em meu seio, porque não fui eu quem vos deu nem a alma, nem a vida, e nem fui eu mesma quem ajuntou vossos membros.
Mas o criador do mundo, que formou o homem na sua origem e deu existência a todas as coisas, vos restituirá, em sua misericórdia, tanto o espÃrito como a vida, se agora fizerdes pouco caso de vós mesmos por amor à s suas leis.
Receando, todavia, o desprezo e temendo o insulto, AntÃoco solicitou em termos insistentes o mais jovem, que ainda restava, prometendo-lhe com juramento torná-lo rico e feliz, se abandonasse as tradições de seus antepassados, tratá-lo como amigo, e confiar-lhe cargos.
Como o jovem não deu importância alguma, o rei mandou que a mãe se aproximasse e o exortasse com seus conselhos, para que o adolescente salvasse sua vida;
como ele insistiu por muito tempo, ela consentiu em persuadir o filho.
tu ainda não escapaste ao julgamento do Deus todo-poderoso que tudo vê!
Enquanto meus irmãos participam agora da vida eterna, em virtude do sinal da Aliança, após terem padecido um instante, tu sofrerás o justo castigo de teu orgulho, pelo julgamento de Deus.
A exemplo de meus irmãos, entrego meu corpo e minha vida em defesa às leis de nossos pais e suplico a Deus que ele não se demore em apiedar-se de seu povo; oxalá tu, em meio aos sofrimentos e provações, reconheças nele o Deus único;
enfim, que se detenha em mim e em meus irmãos a cólera do Todo-poderoso que se desencadeou sobre toda a nossa raça.
Abrasado de ira e enraivecido pela zombaria, o rei maltratou este com maior crueldade do que os outros.
Morreu, pois, o jovem purificado de toda mancha e completamente entregue ao Senhor.
Seguindo as pegadas de todos os seus filhos, a mãe pereceu por último.
Terminamos aqui nossa narração concernente aos banquetes rituais e a estas atrozes perseguições.